Moro em um país onde galhos, folhas, flores e frutos, caem.
No inverno, galhos entremeados na multidão arborizada dialogam sobre os parentes senis que os abandonam, rumando em direções aleatórias, ao ar. Em queda livre, vão unir-se aos que já não tiveram forças para manterem-se por si, presos por laços de seiva. Na árvore em que moro, galhos se sobrepujam sem leis por espaço: os mais fortes, frondosos, de caráter ambicioso, e, muito bem asseados no asseio do parecer, sempre brancos, brancos como a luz, galhos nobres que são, detém os maiores benefícios do sol. Os do cerne, restringidos pelos outros, presos em si, por si, distante de quaisquer luzes, são negros como a noite, quase sempre negros ou mulatos, e em seus pesadelos, desfavorecidos, não contam com os raios de psicólogos-gama e médicos-violeta. Minha alma definha com a árvore.
No outono, a hierarquia das folhas se estabelece da copa verde e amarela às periferias inferiores. A folha mais alta, ocupando a posição mais importante legisla sobre as outras. Seu assistente nervuroso forma o gabinete e assessora a atividade sistemática de vegetar e fotossintetizar a justiça distributiva de bens-seivosos primordiais à subsistência dos sistemas sociais internos das folhas. Mas a corrupção dos vermes e insetos ataca a essência do organismo sociológico e as folhas, em hierarquia, das periferias inferiores à copa já amarelada do legislador-verde, inertes, caem. Minha esperança se corrompe com a folha.
No verão, os frutos nos inundam os sentidos de felicidade sinestésica. Os aromas, cores e sabores se misturam ao ar quente e alegórico que ocasionalmente, durante um período do ano, sugere voluptuosamente um carnis valles em queda livre. Porém, ao solo, em máscaras lantejouladas os frutos acoplam seus corpos veludosos em uma orgia dionisíaca. Muitas desfalecem no ardente asfalto da passarela, outras, caindo em solo arenoso, lentamente degeneram-se na superficialidade-abre-alas. Poucas sementes renascem do samba-enredo polposo na de-composição de memórias, encontrando solo fértil na identidade histórica estagnacional. Com as sementes, meu rosto - sem máscaras - desfigura-se sem identidade.
Na primavera, o rouxinol teológico vem de encontro às flores, e seu melodioso canto transcendente aturde das mais belas pétalas às mais arredias, que rumam ao místico florescer. Longe se ouve os apelos de Zéfiro, prestes a raptar Clóris, e, lentamente, uma... outra... uma... as corolas angelicalmente emplumadas de preces lançam-se ao vazio existencial. Pequenina, vejo uma pétala fluir pela turva água-benta flutuando na sarjeta, porém seu navegar é leve, gracioso, profundo e efêmero. Com a pequenina, meu coração se esvai no sagrado mistério de existir.
Moro em um país onde galhos, folhas, flores e frutos, caem. Apenas observo e lamento os poucos segundos de singeleza delicada no turbilhão estagnacional das estações. E, paradoxalmente... sinto-me feliz, pois o ciclo da existência - e das estações - continuará.
No inverno, galhos entremeados na multidão arborizada dialogam sobre os parentes senis que os abandonam, rumando em direções aleatórias, ao ar. Em queda livre, vão unir-se aos que já não tiveram forças para manterem-se por si, presos por laços de seiva. Na árvore em que moro, galhos se sobrepujam sem leis por espaço: os mais fortes, frondosos, de caráter ambicioso, e, muito bem asseados no asseio do parecer, sempre brancos, brancos como a luz, galhos nobres que são, detém os maiores benefícios do sol. Os do cerne, restringidos pelos outros, presos em si, por si, distante de quaisquer luzes, são negros como a noite, quase sempre negros ou mulatos, e em seus pesadelos, desfavorecidos, não contam com os raios de psicólogos-gama e médicos-violeta. Minha alma definha com a árvore.
No outono, a hierarquia das folhas se estabelece da copa verde e amarela às periferias inferiores. A folha mais alta, ocupando a posição mais importante legisla sobre as outras. Seu assistente nervuroso forma o gabinete e assessora a atividade sistemática de vegetar e fotossintetizar a justiça distributiva de bens-seivosos primordiais à subsistência dos sistemas sociais internos das folhas. Mas a corrupção dos vermes e insetos ataca a essência do organismo sociológico e as folhas, em hierarquia, das periferias inferiores à copa já amarelada do legislador-verde, inertes, caem. Minha esperança se corrompe com a folha.
No verão, os frutos nos inundam os sentidos de felicidade sinestésica. Os aromas, cores e sabores se misturam ao ar quente e alegórico que ocasionalmente, durante um período do ano, sugere voluptuosamente um carnis valles em queda livre. Porém, ao solo, em máscaras lantejouladas os frutos acoplam seus corpos veludosos em uma orgia dionisíaca. Muitas desfalecem no ardente asfalto da passarela, outras, caindo em solo arenoso, lentamente degeneram-se na superficialidade-abre-alas. Poucas sementes renascem do samba-enredo polposo na de-composição de memórias, encontrando solo fértil na identidade histórica estagnacional. Com as sementes, meu rosto - sem máscaras - desfigura-se sem identidade.
Na primavera, o rouxinol teológico vem de encontro às flores, e seu melodioso canto transcendente aturde das mais belas pétalas às mais arredias, que rumam ao místico florescer. Longe se ouve os apelos de Zéfiro, prestes a raptar Clóris, e, lentamente, uma... outra... uma... as corolas angelicalmente emplumadas de preces lançam-se ao vazio existencial. Pequenina, vejo uma pétala fluir pela turva água-benta flutuando na sarjeta, porém seu navegar é leve, gracioso, profundo e efêmero. Com a pequenina, meu coração se esvai no sagrado mistério de existir.
Moro em um país onde galhos, folhas, flores e frutos, caem. Apenas observo e lamento os poucos segundos de singeleza delicada no turbilhão estagnacional das estações. E, paradoxalmente... sinto-me feliz, pois o ciclo da existência - e das estações - continuará.